sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Falácia da Melhor das Hipóteses

Trechos escolhidos do capítulo 'Falácia da Melhor das Hipóteses' em 'As vantagens do pessimismo' de Roger Scruton.
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[Segundo Robert Conquest,] a primeira [das '3 leis da política'] afirma que toda a gente é de direita em relação àquilo que sabe melhor. Com 'direita', queria dizer desconfiado em relação ao entusiasmo e à novidade e respeitoso para com a hierarquia, a tradição e os modos estabelecidos.(...)
Claro que precisamos de originalidade, tal como podemos precisar de soluções radicais quando as circunstâncias mudam radicalmente (...), quando as condições são excepcionais; e era contra o desejo de considerar todos os casos excepcionais que Conquest estava a prevenir.

(As outras 2 leis são:
- qualquer organização que não seja explicitamente de direita torna-se mais tarde ou mais cedo de esquerda; e
- a maneira mais simples de explicar o comportamento de qualquer organização burocrática é presumir que é controlada por um grupo de inimigo seus.)

O pessimismo (...) encoraja-nos a fazer contas ao preço do fracasso, a formar uma ideia da pior das hipóteses e a correr riscos com plena consciência do que acontecerá se os riscos não compensarem. O otimista inescrupuloso não é assim. Dá saltos de pensamento (...). Solicitado a optar em condições de incerteza, imagina o melhor dos resultados e pressupõe que não precisa pensar em mais nenhum (...), se esquece de fazer as contas do custo do fracasso ou então - e este é o aspecto mais pernicioso - projeta a endossá-lo a outrem.

O pessimismo judicioso ensina-nos não a idolatrar seres humanos mas a perdoar os seus erros e a lutar em privado pela sua emenda. Ensina-nos (...) a manter abertas as instituições, os costumes e os procedimentos através dos quais se corrigem os erros e aos quais se confessam as faltas, em vez de visar algum novo arranjo em que nunca se cometam erros. (...)
O pior tipo de otimismo é aquele que (...) fez acreditar que tinham posto a espécie humana no caminho de uma solução de problemas da História e os fez destruir todas as instituições e todos os procedimentos através dos quais é possível corrigir erros.

Os críticos dos otimistas inescrupulosos não só, segundo eles, estão errados, mas são o mal, ansioso por destruir as esperanças de toda a espécie humana e por substituir a amabilidade cordial para com a nossa espécie por um cinismo cruel. (...)
Sei que nenhum otimista será convencido [pelos meus exemplos]. É uma das características mais notáveis da mentalidade otimista nunca aceitar a responsabilidade pelos efeitos das suas próprias crenças nem reconhecer o perigo das falácias que a guiaram.

Qualquer tentativa de construir o Céu na Terra será ao mesmo tempo presunçosa e irracional. (...)
Na verdade, provavelmente uma das funções da religião é neutralizar o otimismo. Ao transferir as nossas esperanças mais especulativas da arena da ação mundana para uma esfera que não podemos alterar, uma fé transcendental liberta-nos da necessidade de acreditar que estão ao nosso alcance mudanças radicais. (...) Ênfase na piedade e na cautela.

As pessoas escrupulosas vêem a ordem da sociedade não como uma coisa imposta como meta e conseguida pelo esforço partilhado mas como algo que emerge por meio de uma 'mão invisível' das decisões e dos acordos que não a tinham como intenção.
Aceitam o mundo e as suas imperfeições, não por não poder ser melhorado, mas porque muitos dos melhoramentos que importam são subprodutos da nossa cooperação em vez de seu objetivo.

Reconhecem que a 'mão invisível' tanto produz maus como bons resultados e que há necessidade de liderança e de orientação para gerir com êxito as emergências. Todavia, também reconhecem que a sabedoria raramente se contém numa única cabeça e que é mais provável que esteja guardada como relíquia nos costumes que resistiram ao teste do tempo do que nos esquemas de radicais e ativistas.

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